Turbilhão
I
Não sei, tudo é turbilhão de ideias e desejos,
E sofrimentos e dissabores — não sei mais viver.
Parece-me que os sentidos hoje são exageradamente
Assaltados por toda esta gama de pandemônios sociais.
De ideias, de símbolos, de idolatrias e de gentes.
Gentes em montes cada qual com sua diferença
Símile. Aparte isto, desejo no fundo do peito uma rua
Vazia. Sem os olhos das donas nem o desconfiar dos moços.
Sem o esposo nem a esposa; dane-se a família, danem-se todos
Os meus conterrâneos que na verdade não o são. E se eu não
Existo? A saber, como um fantasma que delira pessoas conhecer.
Mas estão todos me vendo e relacionando-se comigo. Até mesmo
Quem não conheço: todos os olhos e bocas para cima de mim…
Não sei mais viver. Cansei de ser e de estar e de esperar; cansei e confesso de peito aberto! Ainda que esperem algo de mim… deixem-me. Se não há mais esperança, e tal desgraça a mim pertença, deixem-me sofrer sozinho!
II
Vago na rua deserta. Creio desde cedo que ninguém me enxerga…
Penso na menina que só ela queria no mundo a segurar minha mão.
E mesmo que nada desse certo, fico feliz em saber que ela seria companheira;
Companheira desse mundo onde tudo é orgânico e torna-se nada. Nossas consciências,
Enquanto perdurem, Giulia, que anda e fala comigo ao passo das esquinas, deixamo-las ser. Sejamos irmãos de alma, tu distante assim, mas agora perto. Sejamos apenas Sombras que, nalguma praça se abraçam em meio ao fim da noite e se beijam ao pé de uma árvore, que nunca comemorou nada. Sejamos também parte deste nada, nesta Noite, Como sonho de um suicida que na morte adiou, mas finalmente realizou-se, e por Fim, serenamente morto, encontra nela a graça.
Sejamos dois fantasmas ao pé da árvore da praça.