Sempre encarei com honestidade

a vastidão dos meus próprios abismos.

Sempre reconheci com coragem o medo e a dor,

contudo, também sempre me permiti ver

a beleza contida neles e a poesia que transcende

em esperança silenciosa quando o olhar se perde

no vago do tempo sem saber para onde ir.

 

Sei que existe um fio de prata - invisível - que nos liga.

Não sei onde está, mas sei que me mantém ligada.

Me conecta ao presente (queria viver no passado)

e me liga ao que ainda não sei... nunca vivi, mas almejo...

 

Há um possível nos nossos sonhos?

Ou sonharemos mais 20 anos

enquanto nossos corpos

apodrecem sobre o lodo da vida?

São essas perguntas que me permeiam

nas noites tristes e sozinhas, sempre em busca,

ainda que sem respostas, do transcender

a tempestade interna e a dor de não saber...

 

Nem sempre acredito que há

um ritual de autoconhecimento na queda,

no tropeço, na dor imposta por outrem

ao coração já magoado pela vida.

Se a paz se revela aos poucos,

porque o mesmo não ocorre com a guerra interior?

Ela chega aos trombolhões, detonando tudo.

 

É quando os penhascos

que nos aprisionam a nós mesmos

se agigantam dentro a alma

e o desejo por um colo que nos acalente

de acarícios de amor e ternura

também se expande como se expandem

os raios do sol na manhã...