esgoto
estou cansado
não sei da onde ele vem
não sei onde ele reside
não entendo os caminhos
pelos quais me leva
não entendo sua existência
e o peso que carrega consigo
levando-me ao chão
pronto para ser pisado e abatido
por tudo aquilo e todos a quem
desprezo e desconheço
é uma mistura absurda
de sensações por mim antes
pensadas impossíveis
e um lento decaimento
dos sentimentos de felicidade
e pertencimento
é a morte do sorriso
é a morte do prazer
é o ódio pela rotina inescapável
paradoxalmente me fazendo caminhar
pelos caminhos que destroem meus pés
e minha capacidade de chorar
estou cansado e já não tenho tempo
para dizer sobre e beleza ou a feiura
estou cansado e já não tenho tempo
para observar as cores que enfeitam
a esperança moribunda deste mundo
estou cansado e tenho tempo apenas
para aquilo que me destrói e me dilui
como água de esgoto transito pelo mundo
indesejado e desconhecido
evitado e invisível
sem consistência e sem objetivo
ciente apenas de que sou feito
de uma mistura tóxica e residual
produto de um ambiente
alienígena e hostil
pacientemente à caminho
do infinito mar do esquecimento