peregrinar a dois
amai-me, oh, amai-me tu insistes
odiosa e infeliz tua labuta -
tenho os braços ocupados pelo luto
tomados por qualquer certa amargura
perda, perda, perda nada volta
do pouco que seguro escorre o resto
do pouco que alcanço impõe-se o céu
do tão pouco que sou me dói o tudo
odeio o que amo por ser pouco
minha sede é uma sede de infinito
o grito agonizante do meu peito
ecoa em rouquidão de prisioneiro
um berro, um berro, um berro meu de fuga
quer voar meu coração de andorinha
tão-só na solidão me assemelho
ao sonho Elohino de andarilho
(não sei como dizer-te, meu amor
mas sou da natureza dum errante
acusas-me de fuga, alego ida
mas sabe-se que o voo é abandono)