peregrinar a dois

amai-me, oh, amai-me tu insistes

odiosa e infeliz tua labuta -

tenho os braços ocupados pelo luto

tomados por qualquer certa amargura

perda, perda, perda nada volta

do pouco que seguro escorre o resto

do pouco que alcanço impõe-se o céu

do tão pouco que sou me dói o tudo

odeio o que amo por ser pouco

minha sede é uma sede de infinito

o grito agonizante do meu peito

ecoa em rouquidão de prisioneiro

um berro, um berro, um berro meu de fuga

quer voar meu coração de andorinha

tão-só na solidão me assemelho

ao sonho Elohino de andarilho

(não sei como dizer-te, meu amor

mas sou da natureza dum errante

acusas-me de fuga, alego ida

mas sabe-se que o voo é abandono)

Alê Ramponi
Enviado por Alê Ramponi em 13/11/2024
Reeditado em 20/11/2024
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