BECO ESCURO
Ah, doce luar
Com sua luz tão soturna
Ilumina vielas escuras
Onde vidas turvas estão a se escorar.
Eu, corpo ébrio embriagado de desamor,
Cambaleio, tropeçando em desalento,
Me amparando nos muros dos becos sujos,
Vagando descalça
E pisando nos cacos da verdade
Tão cortante e crua.
E na tétrica beleza da madrugada
Eu me de desabo em prantos
Pelos cantos,
Enquanto consumo farelos de lembranças agridoces.
A lua cheia
Ilumina essências perdidas
Nos enganos noturnos.
Pelas esquinas, com os olhos marejados,
Vejo cascas vazias que mataram seus sonhos
E hoje vendem prazer,
Maquiando as chagas que a ilusão deixou.
No fundo de seus olhos mortos
Sinto fogo e ardor.
Mas, não às julgo,
Quem sou eu para falar de amor?
Meu peito se tornou um beco escuro...
Seguindo murmúrios,
Me junto a outras almas cinzas
Que embebedam sua dores
E escondem segredos, medos e amores
Bem no fundo de seus copos.
O cheiro pútrido de desesperança exala no ar,
E todo mundo finge não notar esse odor
Que se mistura às fumaças
Que sobem aos céus como pedidos silenciosos de socorro,
Enquanto risos falsos fingem colar corações quebrados.
Mas a lua, ah... ela conhece todos os nossos pecados...