BECO ESCURO

Ah, doce luar

Com sua luz tão soturna

Ilumina vielas escuras

Onde vidas turvas estão a se escorar.

Eu, corpo ébrio embriagado de desamor,

Cambaleio, tropeçando em desalento,

Me amparando nos muros dos becos sujos,

Vagando descalça

E pisando nos cacos da verdade

Tão cortante e crua.

E na tétrica beleza da madrugada

Eu me de desabo em prantos

Pelos cantos,

Enquanto consumo farelos de lembranças agridoces.

A lua cheia

Ilumina essências perdidas

Nos enganos noturnos.

Pelas esquinas, com os olhos marejados,

Vejo cascas vazias que mataram seus sonhos

E hoje vendem prazer,

Maquiando as chagas que a ilusão deixou.

No fundo de seus olhos mortos

Sinto fogo e ardor.

Mas, não às julgo,

Quem sou eu para falar de amor?

Meu peito se tornou um beco escuro...

Seguindo murmúrios,

Me junto a outras almas cinzas

Que embebedam sua dores

E escondem segredos, medos e amores

Bem no fundo de seus copos.

O cheiro pútrido de desesperança exala no ar,

E todo mundo finge não notar esse odor

Que se mistura às fumaças

Que sobem aos céus como pedidos silenciosos de socorro,

Enquanto risos falsos fingem colar corações quebrados.

Mas a lua, ah... ela conhece todos os nossos pecados...

Srta Cabernet
Enviado por Srta Cabernet em 05/11/2024
Reeditado em 10/11/2024
Código do texto: T8190489
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