epílogo
hoje é mais um dia que
fico marcando no calendário
para dizer que acabou.
Que esgotou.
Extinguiu, dissipou.
Desapareceu.
Não apenas um sentimento
mas todos sentimentos,
que poderiam me ligar a você.
Hoje é mais um dia que carrego
como velório funesto
perambulando sobre o corpo morto
daquilo que já foi amor
daquilo que já teve vida
daquilo que fazia sentido e sintonia
Hoje só acordes destroçados e desafinados
desafiam a lógica e a estética.
A luva não me serve mais,
os vestidos me constrangem,
os sapatos tímidos se amiudam dentro
de meus próprios passos...
E, dentro do abismo,
insone e sem fôlego...
eu lhe digo: acabou.
Acabou o prazer,
a amizade, o respeito...
não restou nada,
nem mesmo civilidade...
E, quando atravesso a sala
e vejo sua triste figura,
bizarra e esquisita
fere-me a alma ter
que suportar...
Mas pior do que as palavras que sinto...
é meu silêncio abjeto e inútil...
o silêncio que se relega aos mortos,
seguido de esquecimento.
é o silêncio prévio do epílogo
de uma tragédia anunciada.