labirinto
mãe
estou no escuro
onde está sua mão?
ah, sim
havia me esquecido
você se enoja
com meu toque
pai
ouço monstros ao redor
pode me proteger com seu abraço?
ah, sim
havia me esquecido
você já não está
em lugar algum
amigo
estou perdido
pode me ajudar mostrando-me a saída?
ah, sim
havia me esquecido
não há ninguém
estou sozinho
neste labirinto
com criaturas que não posso ver
com medo que não posso controlar
com passos que não posso orientar
com pensamentos que não posso silenciar
com memórias que não posso apagar
com palavras que a ninguém podem alcançar
com minha própria presença
inútil e pesada
o abraço das paredes é frio
talvez seja o mesmo abraço
do túmulo
seria o melhor então
deitar-me e aguardar
o fim se estabelecer?
será que com ele eu poderia conversar
e me livrar desta solidão
da qual todos tem medo?
desta insegurança
que a todos afastam?
será que tudo está invertido?
será que o que temo é o que devo
amar
e o que amo
é o que devo temer?
será o espelho um conselheiro
confiável?
será ele o mais sábio neste
redemoinho de insanidades?
estaria eu certo este tempo todo?
será este abraço frio outra ilusão
fazendo com que eu aguarde
o calmo fim que nunca chegará?
será necessário eu tomar
em minhas próprias mãos
meus pensamentos e adicionar
a eles
a coragem que ainda não encontrei?
onde ela poderia estar?
a reflexão ou inteligência me falham
seria então o ideal
aderir ao impulso?
estaria a coragem no próprio ato
estaria lá também a paz
que imito com minha imaginação?
seria esta inútil cadeia de perguntas
apenas mais uma razão
para permanecer na certeza
do estático
estaria a coragem me chamando
e meus ouvidos recusando a ouvi-la
por temer a paz que caminha com ela?
onde estaria a resposta?
perdida neste labirinto
neste teatro
nesta rua estreita de pedra
na qual estou sozinho?
estaria ela não em um lugar
mas em minha recusa em ouvir?
seria eu capaz de entender
a complexidade da realidade por conta própria
ou por conta própria transformo a realidade em complexa
por temer sua simplicidade?