Medos

Quando era mais jovem,

Tinha medo do escuro

De quando faltava energia,

Precisava dormir com alguma luz acesa,

No corredor, no banheiro,

Depois descobri o medo de altura,

Eu até subo nos últimos andares,

Em coberturas e terraços,

Ando de avião, mas olhar para baixo,

Ah, isso é um problema de fazer tremer,

Ainda guardo esse medo de altura,

O medo de escuro, embora às vezes,

Cause algum incômodo, já convivo,

Mas dois medos que nunca foram embora,

E me fazem companhia em sua existência

São o medo da perda, de tudo um pouco,

Perda de trabalho, perda de estabilidade,

Perda de controle, perda de pessoas,

E o medo da solidão que por vezes,

Encontra-se com o medo da perda,

A solidão do vazio, da ausência,

Da lacuna, do silêncio, do invisível,

Eu até aprendi a viver com solitude,

Da paz, tranquilidade, espaço próprio,

Mas a solidão enquanto perda,

Com essa a negociação é mais difícil,

A coexistência de sentidos diverge,

Porque eu tenho tanto a compartilhar,

Sorrisos, carinhos, abraços, conversas,

Amor, prazer, visão de mundo, gostos,

Histórias, contos, artes, sonhos,

A perda de tempo com quem não quer,

A perda de oportunidades reais,

A perda de significado é dolorosa,

É essa solidão que maltrata,

Que faz questionar a vida,

Os propósitos e o destino,

A insatisfação dos desencontros,

A inutilidade dos desamores,

Mas, penso que deixou de ser um medo,

Virou uma companhia amarga,

Daquelas que se suporta,

Daquelas que chegaram e se encostam,

Fazer o quê, senão abrir um vinho,

E saudar a essa presença solitária?

Um brinde a isto, então!