Maré alta

Noite após noite,

Olho o quadro do farol,

Detalhes ínfimos,

Pinceladas técnicas,

Luzes sombreadas,

No eclipse daquele dia,

Do encontro de opostos,

Sol e lua se abraçando,

Margeados por limites,

Prisões invisíveis,

Expressas no escuro,

No silêncio da alma,

Em tinta a óleo,

A paisagem que pintei,

Quando a tempestade cessou,

E os maremotos amansaram,

As ondas me visitaram na varanda,

Trazendo conchas do fundo do mar,

Sentimentos mais antigos que o tempo,

Na maré alta da solidão azul,

Em imensuráveis palavras escritas,

Segredos sussurrados aos ouvidos,

Lendas de profundos povos aquáticos,

Estranhos e tão familiares nessa maresia,

Que salga a respiração e adoça o coração,

De quem talvez só queira voltar à casa...