Noite soturna

Noite soturna.

O tempo passa arrastado.

Afora a multidão encarna o silêncio,

aqui dentro ele senta ao meu lado.

Os pássaros da madrugada

acovardam seu canto.

O azul que há pouco era manto,

agora é negro sem luar.

Noite soturna.

A moça feia sai pra janela

para ouvir alguém cantar uma canção tão bela

como se fosse só pra ela o cantar.

Longe, nos longes,

um gramofone toca uma valsa antiga,

prostitutas cantam uma velha cantiga

e eu morro, como as velas, nessa noite soturna.