A sombra do juízo
Eu penso que
Estou me perdendo nas sombras.
Eu penso que
Estou a perder o juízo,
Por um ser
Que apenas surge na escuridão.
Era manhã,
E o cinza atravessava minh’alma.
Entre a água quente
E os meus pedaços ardentes,
Eu aguardava por
Um ato teu, tão simples,
E então, no fundo,
Veio o vazio,
Vestido e preparado
Em pretas cores.
Minha boca secava,
Como um rio que se apagava.
Meu fôlego apertava
A cada passo pelo seco,
E minha mente alimentava-se
De pesadelos.
Eu penso que
Estou perdida na garoa.
Eu penso que
Estou a perder o juízo,
Por um ser
Que só vejo nas neblinas.
Onde estou indo?
Sou como um carro desgovernado,
Correndo pela serra alta,
A um passo de cair
Pela ribanceira.
Preciso controlar
O volante à minha frente.
A estrada chove,
O risco aumenta,
Nas terras encharcadas.
Eu penso que
Estou perdida entre árvores.
Eu penso que
Estou a perder o juízo,
Por um ser
Que só aparece entre os galhos.
Eu não quero perdê-lo,
Mas também não quero me perder.
Trancá-lo no calabouço,
E lançar a chave no vazio.
Preciso ser forte,
Erguer minha fortaleza,
E então, quem sabe,
Ouvir tua voz de saudade.