Amarga solidão
Me sufoca o pensamento taciturno,
que arrebata de mim o sono noturno,
trazendo um desejo desesperado,
do pecado que comigo, ainda acordado,
vai ouvindo o vento em seu sórdido gemido,
e na noite vou pensando apetecido.
Que todo mal, lá fora vai me levar,
colocando-me sempre no mesmo bar;
aquele cheiro misturado e enfadonho,
a garçonete a sorrir, é quase um sonho,
misturando a espuma da cerveja quente;
a um canto largado, solitário, um cliente.
Ainda acordado por uma força estranha,
vou seguindo a voz do mal que me acompanha,
pela rua silenciosa sendo empurrado,
quando percebo, estou no bar, já sentado,
e a garçonete ao meu lado, já sorrindo,
como de costume, a garrafa vai abrindo.
E eu me entrego ao vício que a solidão,
me convida, e sobre a vida a servidão,
que no abandono, te isola e assim te abriga;
e que a dor silenciosa sempre castiga,
ao devaneio etílico, querendo esquecer,
que vivendo vai um verme a esmorecer.
Quando no horizonte começa o dia,
vejo a garçonete que ainda me sorria,
percebo que em seu colo suave dormia,
suas caricias não são frutos da paixão,
mas de uma alma que por mim tem compaixão.
Volto à casa pela porta solidão.