INTERLÚDIOS DA TARDE

Os ponteiros do relógio da matriz, parecem cansados no fim da tarde lenta, a marcar o final de mais um dia de nuvens baixas do inverno seco e cinza, na parte elevada da cidade.

O pó carbonizado do dia ainda se exala no ar misturado às fuligens das pequenas fundições e dos fogões de lenha das pequenas casas dos arrabaldes.

A neblina ainda não dissipada no vale úmido abaixo sobe, dando um clima de aldeia à cidade pequena. As luzes das ruas prematuramente acesas apresentam um pequeno halo em seu entorno, formando um quadrante difuso e sombrio nas vidraças esfumaçadas no que resta da luminosidade.

Gotas pendentes da chuva, se agarram inexplicavelmente, à beira do precipício, nos galhos elevados das roseiras que pendem sobre o espaço quântico.

De repente, uma charrete puxada por um velho cavalo branco sujo de terra, magérrimo e de ancas pontudas, surpreende quebrando o silencio, batendo seus pés ritmados, nas ruas de paralelepípedos irregulares. Os sons das ferraduras dos cascos do cavalo, me remetem a lembranças de um passado de capa e espada da infância, ainda não esquecido.

Bordas encardidas das abóbadas das janelas e seus caixilhos podres de madeira encardida, corroídos pelo tempo, reforçam o bucolismo da paisagem e o sentimento de nostalgia que invade as pessoas, apequenando-lhes a alma, tornando-a ainda mais infelizes nos laivos da tristeza cotidiana e justificada de suas vidas vazias.

Um sino toca por cinco vezes, repetidamente, melancólico e renitente contristando os espíritos e consternando ainda mais a palidez dos rostos, numa convocação apocalíptica, exortando os homens a refletirem sobre a consciência de suas culpas, nas incertezas da existência presente, na saudade do passado ainda vivo e nos receios inquietos do futuro, ainda por vir!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 11/09/2024
Reeditado em 11/09/2024
Código do texto: T8149171
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