Quem roubou nosso foco?

Em mares vastos, sem cessar

Navegamos, sós, a vagar

Correnteza de informação

Arrasta-nos sem direção

Nos olhos, o brilho atrai

Mil vozes gritam, sem um “ai”

Cada clique, um novo enredo

Mas o saber foge ao dedo

Perdemos o fio da mente

Num ciclo vago e indolente

Histórias leves, a ilusão

Conectados, mas sem chão

Buscamos mais, sempre mais

Mas o saber já se desfaz

A alma cansa, o peito arde

Na tela fria, a verdade

Há tanto mundo a explorar

Mas presos estamos, a girar

Sorrimos, mas sem notar

Que o foco, o tempo, a vida, o pensar

Já se foram, sem voltar

Saudade do jornal físico

Fazíamos perguntas a divagar

Enciclopédia barsa, momento idílico

Sem propaganda, ninguém a espionar

Hoje, tudo parece tão cínico

Nos grupos, banalizam lutos e lutas

Tanta idiotice, ciumeira e parco linguajar

Se resumem a emoticons e frases enxutas

Solidão estrutural a nos vampirizar

Coachs, gurus, polarização e achismos

Muito ego e nada de humano no ar

Histórias escaneáveis e seus egoísmos

Basta uma crítica e tudo parece se bloquear

Um aspecto na velocidade

Parece tão significativo

As relações numa futilidade

Em fluidico indicativo

Amigos cancelados

Celebridades seguidas

Em outro dia esquecidos

Já não mais curtidas

Saídas de grupos

Textos vazios e sem sentido

Famosos causam

Com seus insultos

E depois se casam

Fingindo ser adultos

Bilhões em flores

Estrelas em casamento

Indianos amores

Desfeitos em outro momento

Meu foco foi roubado

Dilacerado em espelhos

Detox é o recomendado

Prazer em conhecê-los

Decimar da Silveira Biagini

23 de agosto de 2024