ESTIAGEM

ESTIAGEM

É noite. É triste. É pó.

O pó engole a rua nesta noite.

A cidade está guardada

fechada, imersa no ventre no pó.

o pó da manhã

o pó da noite

o pó da tarde

o pó do meio-dia

– o pó do mundo!

Aqui. Ali. Pertinho de mim.

Insistente. Persistente.

Como um manto

penumbroso

ele desce...

Marrom.

Um mar marrom...

Triste.

Silencioso.

Sufocante.

Presente em cada canto

em cada instante.

No olho.

Nos óculos.

Na garganta.

No dente.

A estiagem!...

O pó seco dos dias secos.

Do agosto em invernada.

O mesmo agosto sem rimas

de um poema antigo

onde o lamento cantava.

O pó...

Curioso percorre as entranhas

das casas e encontra os mistérios

escondidos nas salas, nos quartos

nas camas, ...nos lençóis

nas linhas e entrelinhas...

O pó. Acessível!

Atrevidamente acessível...

O pó quer saber dos pulmões

pelas narinas da massa que

tosse tosse espirra tosse

tosse tosse...

Tempo de sequidão!...

Poeira que invade, intrusa,

a vida do nosso inverno. De um inverno

seco e quente de cada um de nós.

Herança da região...

O vento!........

Cavalo alado e fiel que leva

a poeira a passear por ruas, praças,

avenidas e quintais...

e cavalga em tropel

pelas saídas da cidade

– o pó em suas asas.

E sai, e vai, e voa !...E ganha as estradas!...

E dispersa e plana e plana... E pára.

E assenta, enfim, o pó,

que repousa manso e quieto

no verde triste das folhas

dos nossos cafezais.

SGV. (08/08/2001)

Sidnei Garcia Vilches
Enviado por Sidnei Garcia Vilches em 09/08/2024
Código do texto: T8125590
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