E então, Nietzsche calou-se...

Encerrou-se a chuva em seu desabafo.

A última lágrima sombria correu pela janela de vidro limpo.

Observei a noite nascer por cima do Monte Santo.

Meus pés firmaram-se num chão rodopiante.

Aquele livro, que estava tão absorto em suas próprias páginas, incendiou-se.

A vida vazou de mim num vômito doloroso.

Sempre acreditei em karma e outras coisas perigosas.

Deixou-me com um olho roxo quando pedi acalento.

Quantas vezes um teatro apresentou Tartini?

Enquanto o rio coagula-se em sua monotonia,

andar pela sombra acalma os redemoinhos.

Mais uma vez levanto o olhar para o pico rochoso;

o sol engoliu a última das fatalidades.

Tomei veneno, mas logo minhas vísceras apaixonaram-se.

Enlouqueci, mas o dia que raiou puxou-me da coberta enrolada.

Extraí as lágrimas de meu rosto como se houvesse um ducto bloqueado.

Arranquei minhas unhas, mas deixei-as expostas na estante, como troféus gloriosos.

Sem saber como descer pelas escadas de minha beliche,

joguei-me de mil metros esperando o chão frio.

Terminei, no fim da tarde, minha maratona tísica,

onde passei a faixa ao cruzar o limiar do próximo mundo.

Não me entreguei aos pensamentos odiosos.

Ri quando me disseram que eu não falava.

Ofendi a última geração dos pombos na janela.

Senti-me feliz quando a aurora impediu-me de ver as gramíneas no monte.

Mas, não pude terminar o evangelho...

A caneta esvaziou-se.

Triste, desci as escadas e olhei para o céu novamente...

Acredito apenas em Hécate, então orei:

"Deusa das mães, faça-me o último de seus cães companheiros."-