Sangrar Das Almas
Se vê ao rosto, um homem tão cansado
Que vive aos tombos, pelos parques, avenidas
Vivendo assim, tão tristonho e calado
Se lamentando pelo andar da sua vida
Mãos calejadas pelas marcas do sofrimento
E na palma, há machucados e feridas
Perambula buscando um pouco de alimento
Mas nem sempre encontra alguma comida
Olhar que chora, pelo desfecho desta obra
Lembrando os dias, que viveu como decente
Agora vasculha o lixo, atrás de alguma sobra
Nunca o passado, foi assim tão presente
Vive isolado como um velho e fraco ancião
Recluso ao templo numa montanha na colina
Sem saber como perdeu a razão
Que foi no tempo que conheceu uma menina
Agora segue afogado em profunda solidão
De alma imersa sob o sangue escorrido
Já não sente mais o toque suave da mão
Percebeu enfim que deve ter morrido
Já não ouve mais o pulsar do coração
Nem a voz que ecoava como um grito
Aprisionado numa ingênua ilusão
Entende que a alegria é só um mito
Decaindo sobre seu pecado mortal
Derrama o pranto de um olhar que não dilata
E no peito, já se fez em funeral
Onde o que havia, morreu de forma ingrata
Se é lunático? Desconheço o firmamento
Mas lhe asseguro que um anjo também chora
Pois afinal, quem sucumbe ao sofrimento
Entende que a dor nunca vai embora
Levanta a mão, buscando ser resgatado
Mas o mundo parece rir do seu lamento
Se perdeu, tentando ser encontrado
E só restou o terrível sangramento
Como um espírito que pena em regressão
Imposto ao terror que vem em trauma
O homem tolo planeja a própria execução
E faz sangrar, até a mais rígida alma
Enquanto o sábio procura a solidão
E senta à sombra, para ter a sua calma
A vida percorre o trajeto ao dorso da mão
Mas a morte anda nas linhas da palma