O Menino e o Poeta
um dia um menino sábio
perguntou ao poeta:
– o que vale mais a ti, poeta
entre formas cores coisas sentimentos?
entre o que passou e o que ficou
e o que virá? o que vale mais?
entre os muros e os absurdos
entre as lágrimas e a esperança
entre a saudade, o caminho e a solidão
o que vale mais?
e o poeta
ao menino respondeu:
nem o tempo
nem as cãs dos meus novembros
nem o andar curvado no fim da estrada
nem meus sessenta ou outros mais se é que virão
não vale as lágrimas
nem o vento
nem a palidez das minhas terras
no deserto
das tardes
nem a solidão que me namora
nem o viço natural que foi embora
mas vale sim
aquela que aquece
e que permanece na minha alma agora
aquela que veio de longe
ou de perto
rasgando o tempo
o vento
a solidão!...
e se abrindo
em cânticos
em danças cores
frenesis e vibrações
em tardes e manhãs
em calmarias
em tempestades
em mágicas palavras
em primaveras e verões
em flores de todas as estações
...e se explodindo em luzes!
e se aquietando em paz...
aquela que veio
alvoroçada, alada... ou discreta.
menino meu, eu amo sim
e vale pra mim a poesia do poeta
...a poesia do poeta.
[SGV. (11/06/2002)]