O passarinho na vidraça da janela

Sou aquele passarinho bicando na vidraça da janela

tentando chamar a atenção para os meus olhos.

No entanto, o som das batidas de meu coração

não alcança o outro lado da janela,

o suor que escorre dos olhos não toca a vida do lado de lá.

Sou o pequeno pica-pau, batendo incessantemente o bico na janela,

num ritmado ensurdecedor dentro do peito...

Não tinha consciência de minha insignificância

até que aquele olhar de raiva do que não fiz entrou pela porta... e depois saiu...

E a ausência, o silêncio e a indiferença feriram meu bico em dor...

Salpicaram de sangue as minhas penas...

Aos poucos o som das teclas diminui e a partitura de minha luta

vai cessando a sua escrita, o seu desenho.

Fica a tatuagem daquele olhar de raiva, de um virar as costas para mim no átrio de uma roda viva...

E fico, pequeníssimo, miúdo, triste, passarinho na janela...

Sem entender à que fiz, à que vim... à que estou... Por quê? Para quê?

Abro asas e empreendo a fuga... são doloridos os degraus para o nada!

Sou aquele pequenino e insignificante passarinho na vidraça da janela...

Talvez seja a hora de parar de bicar... voar... só... só, abrir asas e voar...