Eu descanso em mim mesmo

Aqui é estranhamente bom

Como eu.

Não tem primavera, inverno e nem verão.

Não diferencio tristeza alegria e nem solidão.

Só o que sei é o que sou agora.

E tempo não me vê, nem o sinto mais,

Porém lembro do que era antes

O mesmo que fui, cercado por cordilheiras.

Cordilheiras intermináveis de ilusão.

Não sei belo, torto ou sofrível.

Só sei pouco dor, quente ou frio.

Ainda fechados meus olhos em tudo se derramam

Não há paixão, mármore, nem lama.

E olhos abertos enganam

Como engana um dia a voz que chama.

Aqui sei pouco, mas é muito.

Não sei jogo, verdade ou mito.

Sei o que sinto e o que vejo astuto

De olhos fechados, ainda vejo, não minto.

Como quem fecha os olhos e ainda vê?

Como quem, de tanto ter a língua na boca,

Esqueceu do gosto da boca,

Mas lembrou-se de que a língua ainda sente.

Como quem acha no hábito um prazer