Só...

No silêncio em que me envolvo, ouço o som do viver

e posso sentir meu coração bater lentamente no peito.

Tentativa inútil de compassar essa espera sem fim.

Sons apagados de um aspirar e expirar desordenados

que tentam inutilmente manter aquecido um corpo sem desejos.

 

Só...

Não é por a noite ser fria, mas são os sentidos que gelam

e endurecem os sentimentos mais profundos, sonhos remanescentes

resguardados das dores, sobreviventes das emoções,

relegados ao desconhecido e incompreendidos pelas esperanças.

 

Só...

Lembranças latentes, constantes, marcas do ferro em brasa

que traça o destino da res e faz a propriedade ser mais forte

que a natureza que cria, que o Deus que alenta.

Dúvidas que como nascentes, formaram rios caudalosos

que descem em cascatas turbulentas, dominando o querer,

alagando o pensar, arrastando o fragilizado entender.

 

Só...

Posso ouvir o tempo passando devagar, sem pressa,

na espera que seja traçado seu rumo, aberto seu caminho.

Posso sentir minha alma observando meu corpo silente,

ansiosa como um pássaro que espera os primeiros raios do sol da manhã,

na expectativa de voar bem alto, vislumbrar horizontes, desejar o amanhã.

 

Só...

Sou só...

Estou só.