silêncio profundo
Silêncio profundo
Os pássaros pararam de cantar
E o farfalhar de suas asas
Parecia um ritmo secreto
Um sincronismo misterioso
Mantido com compassar do tempo
Na estante uma ampuleta deixa
vazar a areia delicadamente fina,
E sincera a denunciar o vazio que há
entre o recente passado e o presente.
Esse é o silêncio dos monges
Daqueles que meditam em prece, agonia ou solidão
Silêncio da clausura
Das portas fechadas, trancadas
Com tramelas de ferro pesadas
Silêncio, denso e cortante
A fatiar nossa alma em lembranças
Em agonias perdidas
pelos cantos da casa
Silêncio interrompido por passos
Sobre a tábua corrida,
Sobre a madeira escura pelo tempo
Silêncio repleto de odores estranhos
Papoulas, jasmim, lavanda e
eucalipto
Silêncio sinistro
dos que tramam assassinatos
Dos que arquitetam algum plano perfeito
Para ser feliz ou morrer
Porque nessa vida, tudo é assim
absurdamente paradoxal
Radicalmente oposto e complementar
O silêncio aguarda a palavra certa
ou incerta reticência
A brindar a dúvida misteriosa
Incrustada nas hesitações diárias,
colocadas sobre o jardim
do imaginário.
As lágrimas caem em silêncio
As almas aguardam em silêncio
Em silêncio morremos,
E permanecemos nele, reféns
até o resgate mágico
da palavra.