silêncio profundo

Silêncio profundo

Os pássaros pararam de cantar

E o farfalhar de suas asas

Parecia um ritmo secreto

Um sincronismo misterioso

Mantido com compassar do tempo

Na estante uma ampuleta deixa

vazar a areia delicadamente fina,

E sincera a denunciar o vazio que há

entre o recente passado e o presente.

Esse é o silêncio dos monges

Daqueles que meditam em prece, agonia ou solidão

Silêncio da clausura

Das portas fechadas, trancadas

Com tramelas de ferro pesadas

Silêncio, denso e cortante

A fatiar nossa alma em lembranças

Em agonias perdidas

pelos cantos da casa

Silêncio interrompido por passos

Sobre a tábua corrida,

Sobre a madeira escura pelo tempo

Silêncio repleto de odores estranhos

Papoulas, jasmim, lavanda e

eucalipto

Silêncio sinistro

dos que tramam assassinatos

Dos que arquitetam algum plano perfeito

Para ser feliz ou morrer

Porque nessa vida, tudo é assim

absurdamente paradoxal

Radicalmente oposto e complementar

O silêncio aguarda a palavra certa

ou incerta reticência

A brindar a dúvida misteriosa

Incrustada nas hesitações diárias,

colocadas sobre o jardim

do imaginário.

As lágrimas caem em silêncio

As almas aguardam em silêncio

Em silêncio morremos,

E permanecemos nele, reféns

até o resgate mágico

da palavra.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 04/01/2008
Código do texto: T802645
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