Procura-se Pedaços Perdidos

Em algum ponto do caminho eu me perdi,

Deixei pra trás aquele que fui e que senti,

Metade de mim vaga por onde eu vim,

A outra metade é o mais completo vazio que já vivi.

Vago por entre pessoas e lugares sem fim,

Alheias aos sentimentos que escondo em mim,

Na minha outra metade onde ninguém quer ir,

A solidão é meu castelo sombrio de marfim.

Nele escondo os amores, as dores e as ilusões que vivi,

A outra metade, aquela que ainda vive, disfarça e ainda sorri,

Nunca vão descobrir, dentro de mim, na outra metade,

Meu coração, oculto, com inefáveis versos que aprendi,

São versos íntimos, incontáveis, a maioria descreve meu sentir,

Alguns, como Augusto dos Anjos, demonstram o caminho que segui,

Não encontrei minha última quimera, não haverá cortejo a seguir,

E a desilusão, como a pantera, está sentada à porta, à espera do porvir.

Mas dia após dia, o porvir se adia, não sei se vou conseguir,

A noite vira dia e o dia vira noite, não sei mais se fico ou deixo-me ir,

Indefinidamente se passam os dias, e repassam, e transpassam em mim,

Como as vagas das ondas que passam pelas pedras sem fim.

As duas metades, é quem sou, aceito a seara que devo seguir,

Num turbilhão de sentimentos, navego sem nem mesmo sentir,

Que, o coração ainda pulsa a saudade que escondo de mim,

Enfim me deito, e deixo os sonhos me levarem de volta, de onde eu vim.

Nos sonhos não existem metades a dividir,

Não existem angústias amargas a digerir,

Neles encontro a paz e alegria de sentir,

Todo o amor e a luz, que um dia perdi.