Sorriso do nada

Na penumbra da noite

Um vento fresco sopra

Pelo quarto vazio

Mas o vazio não se move

Olho pela janela

E me pergunto

Se eu volto

A rua está vazia

Sem carros, sem pessoas

Sem luz, sem som, sem mim

Só eu e o silêncio trancado

Ou serei o oco do outro lado?

Imune ao vento que passa

Me observo sem saber

Que não há mais ninguém

Não há mais nada

Não há mais eu

Não há mais casa

Venho a tanto tempo me procurado

E me achei um nada, no vento

Como o tempo que não há

Hei de nada ser também

O único som é o meu

Uma voz que me diz

Que a verdade é o que cala

Mesmo que seja muda

Um violão violado

Sem cordas

Nem um cordel

Não posso mais ser tocado

Tudo pode ser o que não podia

Tudo pode destoar

Tudo pode ser sem alegria

O que pode um nada? Ser eu?

Mas depois que o vento passa

Passa a lágrima no rosto que não era meu

E sou um nada que ironicamente sorri

Lopes Neto
Enviado por Lopes Neto em 11/01/2024
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