Verdade

É vazio,

e algo morreu

dentro de mim.

Não há mais nada

no lugar do antigo jardim.

A verdade matou a vontade

e trouxe à tona

toda a sinceridade;

com ela veio junto

a crueldade.

Uma parte de mim se foi

e a outra adoeceu.

Tudo o que vejo agora

é o céu,

mas sem estrelas.

É um infinito azul escuro

que me lembra todo meu inseguro.

Um azul que chega a doer

e faz tudo desaparecer.

Declaro a verdade culpada

por ter sido dita tão tarde.

Mas sabia que, apesar de tudo,

haveria muito alarde.

Culpo a mim e aos meus

desejos secretos

que quase me arrancaram o teto

e me fizeram duvidar

do meu intelecto.

Mas não há diferença,

eu sou assim,

não importa o que pensa

o mundo.

Sei que se eu mergulhar fundo

vou acabar no submundo

do que eu nunca disse.

Aí é que a verdade

entraria em crise.

Viver não deveria

ser igual a sofrer.

Eu não deveria desejar morrer.

Nós não deveríamos

precisar padecer

para garantir nosso simples direito

de viver.