exercício
amar o deserto,
suas areias escaldantes,
seu sol inclemente e solitário.
amar a clausura
seu silêncio sagrado,
cheio de sons e palavras mudas.
amar o torto,
aleijado,
o feio e o roto.
amar por simplesmente amar.
amar por obrigação,
amar por vocação,
amar por história
e, contingência.
amar o olhar oblíquo,
a lágrima reta,
a emoção torturante
de não- amar,
de desamar.
amar desanda
feito massa mal-batida,
feito pão sem fermento.
É ázimo.
É crédulo
na fé intensa de se saber
sozinho em meio
ao deserto de mil criaturas.
amar a criação e o criador.
amar o abismo e
o tangível.
amar o que parece impossível
mas é palpável.
amar a miragem
dotada de brisa e sombra.
amar é o paradoxo doce e
cruel mas é
infalível para se sentir vivo.