exercício

amar o deserto,

suas areias escaldantes,

seu sol inclemente e solitário.

amar a clausura

seu silêncio sagrado,

cheio de sons e palavras mudas.

amar o torto,

aleijado,

o feio e o roto.

amar por simplesmente amar.

amar por obrigação,

amar por vocação,

amar por história

e, contingência.

amar o olhar oblíquo,

a lágrima reta,

a emoção torturante

de não- amar,

de desamar.

amar desanda

feito massa mal-batida,

feito pão sem fermento.

É ázimo.

É crédulo

na fé intensa de se saber

sozinho em meio

ao deserto de mil criaturas.

amar a criação e o criador.

amar o abismo e

o tangível.

amar o que parece impossível

mas é palpável.

amar a miragem

dotada de brisa e sombra.

amar é o paradoxo doce e

cruel mas é

infalível para se sentir vivo.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 28/12/2007
Código do texto: T795409
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