CARTAS SOBRE A MESA
Das cartas que escrevi
Nenhuma eu colei os selos
Palavras não são fáceis de digerir
Sentimentos não aceitam conselhos
Já a letra eu sei que é minha
As datas estão nos cabeçalhos
Já para dor, nem tudo é morfina
E o envelope não tem destinatário
Se não pôde passar os olhos
Nunca chegou aos seus ouvidos
Mas hoje faz parte do meu espólio
E de tudo que poderíamos ter vivido
Guardei-as a salvo na esperança
De que um dia pudesse lhe mostrar
Aceitando ser vítima das circunstâncias
Caso a felicidade abnegasse o lado de cá
Pois o fruto da minha imaginação
Seria mais doce se fosse colhido do pé
Sairia do eufemismo para ser palpitação
Me daria asas para voar até onde eu quiser