Olhares de Monge

Num lugar que ainda existe

Onde nunca mais voltei

Onde eu acordo todo dia

Sem flecha apontada

Nem pra nós

Nem pela gente

Noites de fogueira

e festa e fada e bailarina

e sonhos

Todo dia era essa noite

Esse lugar havia

Mas a gente precisou buscar

Alguma coisa

Que não tinha nome

Que não tinha lá

Que estava num dia

Que não tinha nascido

Talvez fosse melhor assim

Muitas folhas vão morrer

Antes que o fruto de uma árvore

Também possa cair e apodrecer

Não por nós, nem pela gente

Faz parte de um outro ciclo

E de uma outra verdade

Não muito poética

Mas gera sementes

Numa duradoura espera

Por olhares de monge

Que não tinha nome

Que não estava lá

A procura de um tempo

Que ainda ia nascer

Que tivera de partir

de algum lugar pra onde

Nunca mais voltou, partiu pra longe

Mas pelo resto da vida

Trouxe uma velha paisagem no olhar

Onde, nela amanheceu

Até seu último dia.

Edson Ricardo Paiva.