O pássaro foi preso porque ele tem asas.
A tarde vai
Noite cai depressa
Parece que não faz sentido
Vai-se como o pensamento
Uma vontade que, apesar de enorme
Sucumbiu, perante o tempo
Em frente da verdade
Te vejo chegando e pergunto
Meu Deus, o que foi que te trouxe?
Quisera fugir de desejo tão doce
Quem dera se ao menos tão breve não fosse.
Tudo são peças
De todos os quebra-cabeças
Mas a vida é toda feita tardes e manhãs
E tortas de maçãs
Esfriando, nas janelas do passado
Aquelas que, de vez em quando
A gente se recorda
Nunca ouvi falar de orgulho que não perecesse
No mais, tudo se ajeita
A tarde passa depressa
De maneira que foi só desejo
Que se põe pra sempre
Lá no fim da linha
Todo fim de tarde é uma visão perfeita
Onde um mundo de horizontes
Se enfileira bem diante
de todos os olhos do mundo
Quando finda o dia e a luz do sol se aninha
Mas a vida toda, ela consiste
De manhãs e tardes
Onde existe a pressa e o vice-versa
E nuvens que não passam por aqui
Se uma só, triste, passasse
Juro como eu lhe pedia
Que me ensine levitar
Que eu revelo a ela
O peso de pisar em brasas
O pássaro foi preso porque ele tem asas
O pássaro que é livre, é livre porque ele está preso às próprias asas.
Eis a nossa natureza
Hoje eu olho para o céu, nada se move
Todo dia é todo feito de manhãs e tardes
E janelas a se abrirem pra jardins de flores mortas
Portas, donde agora estamos. Ah, se elas se abrissem!
Tardes passam, sem fazer sentido
Algodões que não se movem, que não chovem, que não nuvens
que não nevam, que não levam nada
Vão vivendo a vida, sem ligar se faz sentido
São borrões no céu, apesar de parecer felizes
Se passassem por aqui
Pedia pelo menos pra que ouvissem meu pedido.
Edson Ricardo Paiva.