O enigma
Há um sentimento que inquieta a alma,
aquela coceira no fundo da garganta,
aquele lacrimejar no canto dos olhos,
talvez digam que são apenas elocubrações,
tontice de quem anda com as ideias na lua,
pois por tanto tempo andei na desconexão,
Quixote lutando contra dragões imaginários,
Vampiro que se tornava pó nos raios de sol,
Sócrates tolhido na Filosofia pela cicuta,
a difícil saga de ter muita imaginação,
de deixar o coração seguir voos sem asas
como Ícaro rumo ao sol, caindo ao derreter,
a totalidade da vida não pode ser explicada
em convenções sociais ou lógicas semânticas,
pois a coerência de um é a loucura de outro,
sorrisos que se tornam lágrimas perdidas,
no final somos todos indagações sem respostas,
quem somos? quais histórias escondemos?
quem queríamos ser? quais vidas escolheríamos?
se olhar bem fundo é capaz de queimar a retina,
o calor do sol age como um raio laser em curiosos,
fere a alma e não restaura a ilusão da paixão,
destrói a inocência sobre o mundo e as pessoas,
desfaz crenças e esperanças em destinos diferentes,
e aqui estamos tentando encontrar razões, eu e você...
Houve um tempo em que as músicas faziam sentido,
embalavam conversas, paixões, vontades, promessas,
poesias eram rascunhadas ao som de um MP3,
na longa viagem de ônibus entre um ponto e outro,
as paisagens surgiam como telas de Monet ou Van Gogh,
Cores e formas passavam tão rápido misturando-se,
um infinito de pinceladas inspiradas na vida real,
mistérios de ótica que arrancavam suspiros,
bons sentimentos despontavam no horizonte,
a bonança antes da tempestade que tudo arrasta,
melodias agora não tocam mais corações partidos,
não há mais danças, não há mais planos, não há mais desenhos,
as poesias não são mais lidas, os livros foram fechados,
olhando pela janela nessa noite só encontro silêncio,
a solidão que corta a alma, que gargalha do fundo do abismo,
somos todos Coringas em busca de um amor sincero?
mas o mundo talvez seja do Batman ou do Bruce Wayne,
tanto faz, pois esse conto está bem longe de ter um final feliz,
depois do eclipse da lua não teremos um baile sob as estrelas,
não posso reescrever o passado quando o futuro me é negado,
estamos no presente cerceados de ter expectativas ou sonhos,
no piloto automático do viver o hoje como se não houvesse amanhã,
porque o porvir não foi desejado, não contempla mais as utopias,
congelados no imediato, como se houvesse uma eternidade no agora
e aqui estamos tentando encontrar reciprocidade, eu e você...