Me silencio
Consegui matar aqui dentro,
depois de tanto correr,
o realce do que sinto.
Matei, mas continuo vendo
algo de vivo sofrendo
e eu finjo que minto.
Meu peito urge,
grita, cospe
e eu silencio.
É um litoral sem praia,
uma linha solta na alma,
sentir desconforto no afeto.
Mas tudo enche d'água,
o mar inunda a calma
quando o pensamento é direto.
Meu peito urge,
pede, sugere
e eu não faço questão,
passo reto.
Simplificações me irritam,
mas não poderia julgar,
às vezes tudo parece óbvio.
Não merecer, não acreditar,
são os mesmos tópicos.
Quem definiu os esteriótipos?
O que assusta e o que encanta?
A escola é uma fábrica macabra,
quem obdece e quem manda?
Consegui matar aqui dentro,
restando uma ferida na memória,
as esperanças que nos inventaram,
na base de uma angústia pueril.
Basta aceitar, entregar-se a si
e prosseguir aceitando.
Meu peito dorme,
descansa e respira.
O resto é distração.
Reatando Versos, 22 de agosto de 2022.