Um Lugar Chamado Nunca Mais.

Nenhum de nós jamais

Conseguiu reter pra si

Sequer a própria presença

Olhe a sua imagem refletida

Nas águas desse rio da vida

Enquanto ele evapora

E que carrega a tudo que hoje tanto preza

Ninguém jamais teve palavra que resuma

Nem desenho que descreva

O que se esconde atrás do nevoeiro

Nada, além de brumas

Até que a veja de frente

Até que seja tarde pra saber

Um dia essa melancolia leve

Vem, bem de repente

Leva embora noites de tristeza

Tardes de alegria

Pra um lugar chamado nunca mais

Por mais que se pretenda

Tudo é feito pra viver

No dia que amanhece, alegre ou triste

Não existe tempo que se prenda

O mundo é feito de algo igual ao ar que se respira

Você sempre poderá voltar e perceber

E lugar nenhum jamais terá guardado

Um pôr de sol sagrado, um dia do passado

Tudo reinicia novo e novamente

E você nunca o poderá trazer de volta

A gente é que deixou passar

Tornar-se, então, deserto e mudo

E, dessa vez, distante

Começou a deixar de ser o que era

No momento em que você deixou que fosse

Pois, na verdade, de outra forma não podia ser

Um dia terá sido sempre a última vez

Só que dessa vez

Você não terá sequer percebido

O ruído dos seus passos

Abraços perdidos

Olhos, cujos teus olhares nunca mais verão

Olhares, que de tão indiferentes

A gente não guardou nos braços, nem no coração

Passos se afastavam lentamente

Até que, então, silenciassem

Num fluxo constante, instante após instante

Lembranças de um passado que desbota

Algumas alguém lembra

Tudo mais é coisa tão desimportante

Que ninguém sequer nem nota

Nem pensa em tomar nota

Tudo é a própria imagem refletida

Nas águas do incessante rio da vida

Coisa que não se represa

Ela evapora e chora e chora

Como o ar, que se respira e se renova.

Edson Ricardo Paiva.