SOLIDÃO

Ai saudade que me faz

estar aqui a sonhar

diante da vela acesa,

pois em chão de apartamento

não há lugar para braseiro.

Fico a buscar chimarrão,

na água a chiar,

vapores que me envolvam,

pois em céu de apartamento

não há lugar para sereno.

Ai tristeza que me faz

voar daqui a cantar

na esteira da lua pública.

Na janela do apartamento

não há lugar para uma estrela.

Ai cantiga que corrói

meu coração por amar,

sai do peito e da guitarra.

Na solidão do apartamento

não há lugar para o silêncio.

04/06/1985.