O transitável

Em silêncio, mudo, gritava prantos que ninguém jamais ouviria.

O afago - aquele que buscou desde o primeiro minuto que suas fraquezas se fizeram perceber - por entre os dedos escapuliu.

Escapuliu como se fosse leve brisa de um clima do qual não conseguria escapar, não sem antes se perder.

Perdeu-se em razão da cegueira imputada pela ausência de perspectiva. Sem norte, sem rumo.

Mesmo assim, seguindo... E seguindo se depararia com uma travessia impossível.

Aos seus olhos.

Frente àquilo, cedeu o braço.

O desconhecido aceitou e, confiando na sua disponibilidade, seguiram na travessia, juntos

- Como seguir se não vejo pra onde?

Questiona.

- O destino final está dentro de você, não lá fora.

Responde o cego.

O cego, no vislumbre de que não havia ali escuridão que justificasse estar perdido, mostrou-lhe os rumos pelos quais sempre seguiu, sem perder-se.

- Confie e chegará lá.

Seguiu sem mais nada falar, a guiar, certo do seu destino.

Com os olhos agora abertos, viu.

Vendo, sentiu a dor de continuar a ser.

Sendo, indagou-se porquê.

Buzina, o sinal havia fechado

Era sabido.