O não ser que tudo é...

 

Ao trilhar pelo cansaço que me visita,

Percebo que dia serei apenas saudade,

Não que eu seja objeto dela,

Mas a serei apenas como memória

De minha brevidade.

Como que lembrança fugitiva de mim,

Pois que estarei num longe muito próximo.

E neste momento não serei compulsório,

Mas espasmo de pura liberdade,

Que não saberei definir,

Pois que não cabe em um conceito.

Eis que apenas sentirei,

E neste sentir a razão adormecerá em paz.

E terei toda a solidão

Ao mesmo instante que mergulharei no todo.

E desocupado desprezarei com afeto ao tempo,

Que entenderá que não o confronto,

Mas o aceito tanto, que se faz presente,

E não me incomoda

De tal modo que a indiferença é afetiva.

Pois que aqui construo

Um edifício de tijolos invisíveis,

Uma espécie de mosteiro coberto de nevoeiro,

Que se faz presente num alto de uma colina.

Um velho mosteiro que reclama a alma de seu monge.

A alma que pede licença ao corpo,

E divaga lépida por entre dimensões desconhecidas,

Por lugares que não tem localização,

E por estarem ocultos,

Apenas eu próprio estou por lá,

Mas desconheço conscientemente o caminho.

Para lá vou sem saber o quando,

E o porquê.

Então existo, sem me incomodar com isto,

Apenas sou, e isto parece bastar,

Pois que abandono a necessidade de necessitar,

E livre de mim, me torno todo meu,

E sendo despossuído me sinto mergulhado

Numa espécie de gênese do surgir.

Portais se abrem, colunas se seguem,

Não existe fundo, não existe o topo,

Apenas múltiplas colunas

Habitam o senil mosteiro.

E por lá dou passos que deixo perdidos,

Para que um dia quem sabe os encontre,

Pois que o caminho não tem mapa,

Mas os velhos passos por vezes

Encontram as suas antigas rotas.

Talvez, um horizonte distante,

Quem sabe um oceano pacificado,

Onde brisas acariciam

As velas de embarcação

Que na sua falta de rumo

Acaba por encontrar o seu destino.

E então a alma repousa no corpo,

Se aquieta as batidas do coração.

Ouve uma música distante,

Uma poesia a se formar pela inspiração

Que a decifra em letras de silêncio.

 

19/08/2023

Gilberto Brandão Marcon

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 20/08/2023
Código do texto: T7866335
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