A Pacificação da Alma
De repente, já passou,
Nem deu tempo de ver,
Só deu tempo de sentir,
E o sentimento insiste em ser
Aquilo já não se faz presente.
Estranha é a dinâmica da vida,
É como que por um instante
Parássemos e por nós
Passassem os vários rostos
Daqueles que conhecemos
Em suas várias idades,
Num envelhecer contínuo
Num ir tão lépido,
Que em dado instante
A saudade parece focar o passado,
Mas já se associa
A um futuro que está por vir.
Num lugar em que não existe tempo,
Em que todos os momentos
Parecem se encontrarem
Num minúsculo instante,
Que tão insignificante,
É quase nada,
E por isto parece ser eterno
Pois que não dá tempo ao tempo.
Não se deixa escravizar pelas medidas
Escapa fugaz aos relógios
Que nem adiantam e nem atrasam,
Pois que em não havendo tempo,
Parece que não há começo e fim,
E assim se constrói um possível ‘para sempre’,
Em toda nossa utópica vontade
De esquecer as dolorosas separações,
E converter tudo em eternos encontros,
De modo que nem feliz, nem triste,
Apenas pacificado com o próprio coração.
Em um profundo respirar
Para que de instante para o outro
Cair em si, ver toda a realidade,
Deixar o mundo da imaginação
Para que tomado de surpresa
Se dessecante por conta da razão
Que busca explicar o que era místico.
E eis que então
Se descobre que talvez
A maior das loucuras
Seja a própria lucidez,
Pois ao saber de si,
Ao identificar o outro,
O que antes era todo,
Se fragmenta em infindáveis partes.
Mas eis que ao perceber
Que a realidade bate à porta,
Pede ao tempo para que ele descanse,
Para deixe de passar,
Para que num único momento,
Seja este todo,
Este encontro.
Esta paz.
05/08/2023
Gilberto Brandão Marcon