Devaneios de uma Alma Errante

 

Eis que ao bebericar gotas do infinito amor,

Tudo em nós parece ficar por demais pobre,

E em nossa miséria de ser surge o desencanto.

Na busca de justificativa,

E na ausência de respostas plausíveis,

Esgotado na razão,

Mergulhado em emoções coaguladas,

No incômodo de ser,

O nada se faz por demais atraente.

Pois que o nada parece ter algo de puro,

Enquanto o ser, traz a presença do caos.

E ainda que nos combates se guarde a fé,

Chega tempo,

Em que os combate parecem perder seu sentido.

Então resta a ética do dever,

Buscar algum sentido ainda que não se encontre.

A alma cansada do corpo

Se sente impulsionada a fugir.

Mas qual fuga? Fugir para onde?

E se conclui

Que não existe verbo adequado para tal ação.

E assim resta apegar-se

A velha bengala da razão

Numa tentativa de manter a sanidade.

E esta talvez seja a maior das ilusões,

Pois que é arquitetada pelo raciocínio.

Está distante da impulsividade do inconsciente.

Assim se tem plena consciência

Apenas deste minúsculo instante no tempo

Fragmento de uma vida

Dentro a imensidão de tantas outras,

E com alguma ironia

E talvez um tempero de sarcasmo,

De soslaio visite a mente um conceito

Que nos signifique

Como um enxame de insetos com consciência.

E sabe assim, não seja possível

Não conseguir deixar de sentir

A pequenez das supostas grandezas.

E nesta mediocridade que é ser,

Sentir que deva haver um propósito

Uma justificativa que não se enxerga.

De modo,

Que o melhor a se fazer é se aliar ao tempo,

Tentar construir algum sentido ético,

E na restrita postura de ser,

Tentar ser algo que vala a pena,

Pois que eis que existir

Parece ser uma penalidade

Por ter experimentado

O fruto proibido da árvore da vida.

Um evento simbólico,

Que muito explica,

Mas bem pouco justificada.

De modo que se percebe

Que não cabe a presença de ponto final,

Mas de eternas reticências,

Pois que na dúvida

E no ignorar existe alguma esperança

Que nossa rala razão não parece alcançar.

E assim, se convive com os silêncios

Cheios de um turbilhão de sentires e pensares.

Se respira fundo,

E se faz de conta de que está tudo bem,

E se vive, pois que é preciso viver,

E em sendo preciso,

Melhor que se tente algo

Que vá além da mediocridade

Se assim for possível.

 

19/08/2023

Gilberto Brandão Marcon

 

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 20/08/2023
Reeditado em 20/08/2023
Código do texto: T7866306
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