Tempestades sobre a Razão
Fagulha luz criada para luzir em meio a decadência,
Que despendeu do céu para caçar as trevas dos infernos terrenos,
Que se pensou filho da Criação,
E depois se descobriu ser apenas mais um tolo
E em sendo tolo, não quis abandonar sua própria tolice,
Pois que nela parecia algum pudor de viril honradez.
Então, esqueceu que era filho, e preferiu se tornar servo,
Pois que um propósito há que ser superior a qualquer alegria,
E sabendo que toda alegria é antes ilusão gerada pelo encanto,
Tal como a dor é sua irmã gêmea que se oculta em sua sombra.
Exausto de si, não querendo nada ser, se descobriu sendo,
E arrogante em seu orgulho ferido
Que é ferida que nunca para de sangrar
Vaga entre a vida e a morte,
Se assombrando o tempo todo.
E por ser tão ínfimo,
É que se faz louco em sentir forças muito além de si
Longe da transgressão,
Será sempre escravo de suposta lei,
Refém de sua alienação numa utópica crença na justiça.
E então guerreiro em farrapos andará por um belo jardim,
Ali toda sua fúria haveria de se acalmar ante a suave beleza.
E ainda que ali possa ser a promessa de um paraíso,
Não sentira que que ali é o seu,
Pois que seu coração é vulcânico
É lavra ígnea que se esfria em pó para ressurgir
Em fênix renascida a querer vingar todo o mal vigente,
Mas o que seria o mal? O que que seria o bem?
São tantas faces de um único ser,
Tantas páginas escritas para serem esquecidas.
E não desejando viver,
Também não desejou morrer,
Pois que o incômodo é ser.
E em sendo servo,
Como poderia ser tão rebelde?
Não entende,
Não espera ser entendido.
Não vê sentido,
Consegue zombar de uns tantos significados,
Zomba sem humilhar,
Pois, que se irmana ao zombado,
Pois que ri de si,
Tal como de tudo que o cerca.
Para depois se calar,
Teme perder os sentidos,
Ao tentar raciocinar o que poderá haver no transcendente,
E descobrir que não existem hipóteses razoáveis,
De modo que se deixa conduzir pela alegria e dor
Clamando piedade,
Em se crendo ter tentado ser um servo fiel,
Em que ao final
Terá por esquife sua dignidade,
E que com paz possa esquecer
Ou encontrar forças no perdão,
Para finalmente ficar livre de si.
Gilberto Brandão Marcon
09/07/2023