ESTÁTUA

Permaneço incólume,

intocável,

ainda pensando

(se me é dado pensar)

em arrebatar a vida,

vida sem pedestal,

vida de elevações

e precipícios.

 

O azul e o vermelho

põem-se tentadores

à minha frente

e eu permaneço

na sonolência do negro.

 

A vida passeia

ao meu redor.

Permaneço incólume,

estátua em bronze,

pensando em descer

do pedestal

e tomar a vida,

mas vou deixando

a chuva cair,

o vento soprar,

intocável...

 

Assim é a vida da estátua:

séculos no mesmo lugar,

alheia a tudo e a todos a sua volta,

sem ao menos se incomodar

com as fezes dos pássaros

e com a urina dos transeuntes bêbados.

É melhor não ser estátua,

bem melhor ser de carne e osso,

ainda que perecível...

 

Zildo Gallo - Americana, SP, 20 de agosto de 1974

Meu primeiro poema, revisado em 09 de maio de 2017.