Mente vazia, oficina do descaso
O que me faz refém da insônia
E alaga as ruínas que chamo de confiança
É essa sensação de desesperança;
De que já fui esquecido.
Um ébrio sentir
Que cava-me do peito ao umbigo
Me opera das entranhas; as arranca
As faz de tapete e roupa de banho
E limpa a pele com meu sangue ralo.
Eu me complico, eu te destravo
Eu corro por você ou sempre ao seu lado
E em todas as caminhadas, em todas as ruas quebradas
Eu estive ali. Dando meu apoio;
Minha presença.
Por menor que fosse a diferença
E por mais ignorável que ela fosse
Ainda era de bom grado
Com intuito de suporte.
Nem todos contam com a própria sorte
Da lealdade que nada vê;
E mesmo com a probabilidade ao seu lado
Mesmo que eu tenha vivido para alertá-lo
De nada adiantou.
Gastei meu tempo, minha sanidade
Disse-lhe as mentiras que me pediu; as verdades que ignorou
E muito mais entre uma sentença e outra.
Estendi a mão quando eram apenas dedos que te apontavam,
O caminho de casa,
Outros lugares que não cabem em palavras,
E não faço questão de relembrar;
Foram suas as lamurias que infeccionaram meus ouvidos
Que conflitaram com quem me chamava de amigo
E me fizeram questionar
Que tipo de abrigo sou eu
Se sequer posso abrigar
Uma quantia razoável de amor
Para que pudesse, também, me amar?
Como ser algo
Que eu achei que sempre fui
Mas nunca cheguei perto
De um dia ser?
Como lidar com a sensação
Que andei a vida toda na contramão
E ninguém foi bondoso suficiente
Para me alertar?
...
Eu já caminho sozinho, há muito tempo
Por escolha própria.
Por, sozinho, ter sentido-me abandonado
E por correlação, ter abandonado também
Larguei as bagagens, comprei as passagens
Fiz a aterrissagem em mim mesmo
Vendo razões a esmo
Que justificam minha insônia,
Minha prisão enfadonha
Minha mente vazia.