Mente vazia, oficina do descaso

O que me faz refém da insônia

E alaga as ruínas que chamo de confiança

É essa sensação de desesperança;

De que já fui esquecido.

Um ébrio sentir

Que cava-me do peito ao umbigo

Me opera das entranhas; as arranca

As faz de tapete e roupa de banho

E limpa a pele com meu sangue ralo.

Eu me complico, eu te destravo

Eu corro por você ou sempre ao seu lado

E em todas as caminhadas, em todas as ruas quebradas

Eu estive ali. Dando meu apoio;

Minha presença.

Por menor que fosse a diferença

E por mais ignorável que ela fosse

Ainda era de bom grado

Com intuito de suporte.

Nem todos contam com a própria sorte

Da lealdade que nada vê;

E mesmo com a probabilidade ao seu lado

Mesmo que eu tenha vivido para alertá-lo

De nada adiantou.

Gastei meu tempo, minha sanidade

Disse-lhe as mentiras que me pediu; as verdades que ignorou

E muito mais entre uma sentença e outra.

Estendi a mão quando eram apenas dedos que te apontavam,

O caminho de casa,

Outros lugares que não cabem em palavras,

E não faço questão de relembrar;

Foram suas as lamurias que infeccionaram meus ouvidos

Que conflitaram com quem me chamava de amigo

E me fizeram questionar

Que tipo de abrigo sou eu

Se sequer posso abrigar

Uma quantia razoável de amor

Para que pudesse, também, me amar?

Como ser algo

Que eu achei que sempre fui

Mas nunca cheguei perto

De um dia ser?

Como lidar com a sensação

Que andei a vida toda na contramão

E ninguém foi bondoso suficiente

Para me alertar?

...

Eu já caminho sozinho, há muito tempo

Por escolha própria.

Por, sozinho, ter sentido-me abandonado

E por correlação, ter abandonado também

Larguei as bagagens, comprei as passagens

Fiz a aterrissagem em mim mesmo

Vendo razões a esmo

Que justificam minha insônia,

Minha prisão enfadonha

Minha mente vazia.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 31/07/2023
Código do texto: T7850091
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