Reverso
Para saber mais, muito mais, além desse sorriso
Desvendar o sombrio que é meu e ninguém mais
Esses caminhos, trilhas, atalhos que me adentram
Os grotões toscos, cavernas, ribanceiras abissais
Os lugares ermos dentro de mim que nunca andei
Os cemitérios malditos que me somam
Vou caminhá-los no despencar do anoitecer
Passos miúdos, pés descalcos, peito aberto
Escudado por essa coragem fina de menino
Que ainda temeroso insiste em ver
As bruxas que moram minhas florestas
Os gnomos que se escondem no jardim
Fantasmas em meus casarões envelhecidos
Ventos gélidos que sopram ininterruptos
Duendes pendurados em meus abismos
Inquilinos desconhecidos ocultos em mim
Entes, legiões, turbas vociferantes
O indizível estampado no escuro
A escuridão, o lado torpe e assassino
A potência assustadora da mola do ódio contraída
Que derepente pode distender na minha face
Ver desvelada sem pudor a minha brutalidade
Abrir sem medo a jaula da fera enfurecida
Deixando a solta o monstro raivoso e incontido
E contemplar ofegante, extasiado e atônito
O reverso do verso, o avesso do avesso do lindo
E me saber mais, muito mais, além desse sorriso