partículas continuas

aquela estrela a me acompanhar

a tristeza reticente no seu olhar

a última pedra desse abismo

um dose de licor de absinto

e tudo, ao meu redor é uma molécula

é um nada, que é essência de tudo

aquela nuvem a esfumaçar o céu,

a corromper o horizonte,

a embarrerar o infinito

e tudo, ao meu redor é imenso

é tudo contido em tudo,

em partículas contínuas

como uma tempestade

e, em cada gota, há um mistério exalando orvalhos,

perfumes de cravos,

alfazema guardada em armários

a gaveta aberta a segredar os embutidos

sentimentos das entrelinhas

sentimentos goteejantes,

espirrados entre frestas,

arestas

e quinas

intangíveis ao pensamento.

esse mar de agonia

contido em minha garganta

e os fonemas roucos

a pedir socorro.

e, um enorme silêncio

desvatador e solitário

a se esvair pelos becos,

pelas ruelas,

pelas avenidas acesas de uma noite vazia.

os carros ignoram as vidas

os traseuntes

os pedestres ignoram cães, gatos e plantas

vida que ignora vida

e homenageia a morte por sua indiferença.

aquela estrela a me acompanhar

aquela lágrima a escorrer em mim

as trevas medonhas,

os ódios secretos

e, as verdades indizíveis.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/12/2007
Código do texto: T781242
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