partículas continuas
aquela estrela a me acompanhar
a tristeza reticente no seu olhar
a última pedra desse abismo
um dose de licor de absinto
e tudo, ao meu redor é uma molécula
é um nada, que é essência de tudo
aquela nuvem a esfumaçar o céu,
a corromper o horizonte,
a embarrerar o infinito
e tudo, ao meu redor é imenso
é tudo contido em tudo,
em partículas contínuas
como uma tempestade
e, em cada gota, há um mistério exalando orvalhos,
perfumes de cravos,
alfazema guardada em armários
a gaveta aberta a segredar os embutidos
sentimentos das entrelinhas
sentimentos goteejantes,
espirrados entre frestas,
arestas
e quinas
intangíveis ao pensamento.
esse mar de agonia
contido em minha garganta
e os fonemas roucos
a pedir socorro.
e, um enorme silêncio
desvatador e solitário
a se esvair pelos becos,
pelas ruelas,
pelas avenidas acesas de uma noite vazia.
os carros ignoram as vidas
os traseuntes
os pedestres ignoram cães, gatos e plantas
vida que ignora vida
e homenageia a morte por sua indiferença.
aquela estrela a me acompanhar
aquela lágrima a escorrer em mim
as trevas medonhas,
os ódios secretos
e, as verdades indizíveis.