Caixão

Eu me lembro de quando perdi a cabeça

Não físico, metafórico.

Quando era muito eufórico

E não sustentava meu interior.

Quando as paredes perdiam a firmeza

E tremiam apenas com meu caminhar.

Eu era diferente. Morri centenas de vezes para chegar até aqui.

E não ressuscitei de todas elas.

Ainda acordo debaixo da terra,

Ou com vermes que rastejam sobre minha pele,

Ou choros perdidos em noites esquecidas,

Varridas com o tempo, analisadas, ressignificadas

E quaisquer outras bobagens sobre superação.

Ainda choro repentinamente em dias felizes

E dou altas gargalhadas em dias de luto

Sou a favor do breve, do curto, do enxuto

Mas sou o primeiro a tagarelar.

Repetidas vezes eu me repito...

Ou melhor, repito:

Repetidas vezes eu digo a mesma coisa

E nem percebo quando sou reincidente

Talvez seja apenas a necessidade inerente

De voltar e me explicar.

De tornar tudo claro, límpido

Assim como meu teto de vidro

Que jamais terá uma pedra arremessada por mim

Eu já fiz de tudo, já tentei todas as coisas

Mas nunca uma segunda vez. Algumas vezes nem uma primeira

Algumas vezes era apenas uma sórdida brincadeira

Que minha mente insistia em praticar.

Uma história infinita sobre infinitos personagens

Felicidade, amor, conquistas, miragens

E quaisquer outras bobagens sobre o meu fim.

Mas não foi assim. Não havia de ser.

Não havia o porque. Não havia razão.

Desta vez não me levanto deste caixão.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 15/05/2023
Código do texto: T7788515
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