azul demais

tanto azul

azul, anil e ciano

azul

e azul por toda parte

mar azul,

céu azul ,

lágrima azul

o arco-iris corrompia

com outras cores o azul da paisagem

e o violeta manchava o horizonte

deixando marcas de hematoma

tanto azul

azul demais

azul cianótico

olhos azuis

profundos de ardósia

mesmo com a chuva

o azul não desbotava

a poesia corria pela calçada

como um córrego perdido

em direção a mar nenhum

sob a chuva

mar de lágrimas secretas

azuis perdidos em tons e semitons

um bemol a reger o barulho da chuva

e, um sustenido a governar trovões

e com a síncope do raio

registrava

o silêncio de cristal

abandonado no meio da rua

da tarde envolta em montanhas,

ilhas e aquarelas

azul em firmamento tórrido

esfumaçando um gás azul

ou azulado, será miragem?

de brilho intangível

de purpurina líquida

corpos oleosos

e bronzeados

sob um sol insistentemente

azul apesar de doirado

azul estético

azul poético

azul amnético

esquecido das outras cores

de outras nuances,

de outros encontros com a luz

e com as trevas

as estrelas vieram

o azul escureceu-se,

entristeceu-se solitário,

perdido em mistério

aguardando cioso ,

o amanhã.

o que será amanhã?

uma nuvem branca?

uma nuvem cinza?

não, uma nuvem manchada de azul

da lembrança enfurecida

de quem se esqueceu

de acordar.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 14/12/2007
Código do texto: T778724
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