azul demais
tanto azul
azul, anil e ciano
azul
e azul por toda parte
mar azul,
céu azul ,
lágrima azul
o arco-iris corrompia
com outras cores o azul da paisagem
e o violeta manchava o horizonte
deixando marcas de hematoma
tanto azul
azul demais
azul cianótico
olhos azuis
profundos de ardósia
mesmo com a chuva
o azul não desbotava
a poesia corria pela calçada
como um córrego perdido
em direção a mar nenhum
sob a chuva
mar de lágrimas secretas
azuis perdidos em tons e semitons
um bemol a reger o barulho da chuva
e, um sustenido a governar trovões
e com a síncope do raio
registrava
o silêncio de cristal
abandonado no meio da rua
da tarde envolta em montanhas,
ilhas e aquarelas
azul em firmamento tórrido
esfumaçando um gás azul
ou azulado, será miragem?
de brilho intangível
de purpurina líquida
corpos oleosos
e bronzeados
sob um sol insistentemente
azul apesar de doirado
azul estético
azul poético
azul amnético
esquecido das outras cores
de outras nuances,
de outros encontros com a luz
e com as trevas
as estrelas vieram
o azul escureceu-se,
entristeceu-se solitário,
perdido em mistério
aguardando cioso ,
o amanhã.
o que será amanhã?
uma nuvem branca?
uma nuvem cinza?
não, uma nuvem manchada de azul
da lembrança enfurecida
de quem se esqueceu
de acordar.