ANSIOSA NOITE

A noite é um estado emocional para quem anseia pelo raiar do dia sem

passar pelo apagar dos olhos. Quando sua mente percorre um labirinto

madrugada a dentro o relógio nos assiste com pipocas saborosas estourando a

cada centésimo de segundo. Todo medo impõe seu brado nas paredes de um

coração sem chão entoando ecos remixados de um DJ que quer fazer dessa noite

uma celebração memorável, daquelas que veremos esquecer na manhã

seguinte.

A sinfonia dos insetos, grilos e mosquitos, harmonizados com a companhia dos

latidos dos cães vigilantes com a orgia dos miados de felinos amantes desenham a

paisagem dessa viagem ferroviária neste vagão solitário. É o mundo que passa por mim

nesta janela aberta. A brisa beija meu rosto como um consolo de quem se compadece

do meu desespero em me desligar do consciente emaranhado. Traz consigo o cheiro da

vida e da morte, do verde e do queimado, das flores e dos passos largos, mas não me

oferta o deleite da inconsciência sonhadora.

Não é a hora para se ter disposição para correr nesta estrada penumbrosa, nem

tão pouco sentir calor para de se lançar mergulho a dentro numa cachoeira cristalina.

Desejos mórbidos de uma mente enclausurada pelos erros cometidos contra a paz. Se

pelo menos as nuvens entoassem a canção da chuva, tão “ninante” aos ouvidos meus,

para substituir a dose irresistível de Rivotril que meu paladar já se apegou eu não teria

que rorejar os insucessos que realizarei no dia que nunca chega, mas que para outros é

facilmente denominado de amanhã.

Eu que nem gosto de dormir só queria não despertar na biologia cronológica do

meu corpo indeciso. Para mim todo dia é uma longa noite e toda escuridade é um sol a

pino nos meus pensamentos, que queima a pele com ou sem proteção contra os seus

raios bronzeadores. Relâmpagos das memórias emitem altissonantes trovoadas neste

cômodo frio. São sons aterrorizantes de uma tempestade que causa destruição sem

derramar uma gota de lágrima. O chão é seco, não sei se infértil, mas a boca e a terra se

fundem na mesma sede pela água que hidrata seus lábios falantes sem voz. É a vida

passando pela minha janela aberta para você entrar trazendo nos seus braços os raios

quentes do amanhecer.

Max Moraes - quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Max Moraes
Enviado por Max Moraes em 27/04/2023
Código do texto: T7774189
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