Últimos Dias: Sem Cadeado
Eu nunca saberia que minha exercida ignorância
Responderia a tantas perguntas deixadas em aberto
Parcialmente respondidas, mas não em palavras
No momento em que você fechou aquela porta,
E encerrou nossa história. Ponto final.
Agora, neste quarto trancado, isolado do mundo, isolado de tudo
Sinto que estou vivendo meus últimos dias, primeiros socorros
Dias em que vivo uma real montanha-russa emocional
Vezes excitado, vezes assustado, sempre ansioso
Tragado pelo desconhecido, pela impotência, pelo insosso
De ser conduzido a um novo trajeto, traçado destino ou purgatório.
Nestes meses, anos, de tamanha intensidade, vulnerabilidade
Minha idade avançou anos-luz, já não acompanho meu próprio tempo.
A sensação é a de ter soprado um enorme balão com ar do próprio pulmão, e desmaiado.
É como ter vivido meio século, somente neste último milênio. Cada segundo, pausado.
Não tenho muitas alegrias e conquistas a celebrar.
O que restou foi o aprendizado em reconhecer meus próprios erros,
E quem sabe um dia numa oportunidade longínqua, terrena
Permitir-me extravasar sentimentos trancados, lacrados
Tão bem fechados como esta porta travada, sem cadeado.