LACRIMOSA
Noites chuvosas, lacrimosas, constantes incessantes
Ao céu negro poética em labaredas, assaz voraz
Da boca do poeta, saem estonteantes
Versos quentes, Infernais!...
Sonhos da Lua, plumas, neves, alvuras brancuras
A vagarem no sombrio sono do esquecimento,
Nostalgia a se perder nas sepulturas:
Do Inconformismo e do lamento!...
Memórias de afetos, dissolvidas se esquecia
Lacrimoso céu sombrio que luz encerra,
Em seu tédio mortal, monotonia fria
Mescla do escaldante coração na frialdade da terra!
Amo-te contudo, ó minhas serenas fantasias ternas
Cheiros, sabores, visões a pintar paisagens fraternas
Adornadas nas molduras abertas a descobertas
Retratos de juventudes que pudessem ser Eternas!
Mas logo que da Existência suas dores e sofrimento
Abrem o espaço mortal, Spleen em chamas…
Cósmicas injustiças que ferem o Pensamento
E de um Espírito em que o corpo não acompanha!
Assim são noites em que lacrimosas Ilusões
Nas tempestades ardem, Impérios da saudade e sangue,
Nos escombros do céu negro, lembram-te Vontades
No véu da madrugada, potente desejo que a tudo consome!
E quando te abrem os Mistérios em portas infinitas
Penetras no Mundo tal qual é dado, vaporizante em névoas,
Nem mesmo os sentidos ou percepção, ou corpo que habitas,
Ainda assim é nisto que repousa tudo tanto quanto te interessas!
E nos constantes silêncios aterradores, gritos devem profanar
Em ódio ao divino que em sua luz há misérias demais…
Lástimas, nesta lacrimosa chuva sublimações hão de se invocar:
Em Blues caindo como granizo, escárnio de Satanás!