LACRIMOSA

Noites chuvosas, lacrimosas, constantes incessantes

Ao céu negro poética em labaredas, assaz voraz

Da boca do poeta, saem estonteantes

Versos quentes, Infernais!...

Sonhos da Lua, plumas, neves, alvuras brancuras

A vagarem no sombrio sono do esquecimento,

Nostalgia a se perder nas sepulturas:

Do Inconformismo e do lamento!...

Memórias de afetos, dissolvidas se esquecia

Lacrimoso céu sombrio que luz encerra,

Em seu tédio mortal, monotonia fria

Mescla do escaldante coração na frialdade da terra!

Amo-te contudo, ó minhas serenas fantasias ternas

Cheiros, sabores, visões a pintar paisagens fraternas

Adornadas nas molduras abertas a descobertas

Retratos de juventudes que pudessem ser Eternas!

Mas logo que da Existência suas dores e sofrimento

Abrem o espaço mortal, Spleen em chamas…

Cósmicas injustiças que ferem o Pensamento

E de um Espírito em que o corpo não acompanha!

Assim são noites em que lacrimosas Ilusões

Nas tempestades ardem, Impérios da saudade e sangue,

Nos escombros do céu negro, lembram-te Vontades

No véu da madrugada, potente desejo que a tudo consome!

E quando te abrem os Mistérios em portas infinitas

Penetras no Mundo tal qual é dado, vaporizante em névoas,

Nem mesmo os sentidos ou percepção, ou corpo que habitas,

Ainda assim é nisto que repousa tudo tanto quanto te interessas!

E nos constantes silêncios aterradores, gritos devem profanar

Em ódio ao divino que em sua luz há misérias demais…

Lástimas, nesta lacrimosa chuva sublimações hão de se invocar:

Em Blues caindo como granizo, escárnio de Satanás!

Alcântara de Suede
Enviado por Alcântara de Suede em 20/02/2023
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