INSÔNIA

Posso ouvir os gritos do silêncio, o diálogo que se propaga no vazio;

Posso discernir a óbvia distinção entre o nada e o nenhum;

Porque sou agora errante passageiro dessa estrada onde me guio;

Para entender que todos os meus destinos findam em lugar algum!

Ouço a voz das minhas vozes a acato as surras da consciência

Lá fora o calmo som do orvalho, que se estala qual pluma nas ruas

Porque posso agora velejar sem medo, nos mares da sutil inocência

Dando vestes de alento para todas as minhas almas, outrora nuas!

Desço as escadas altivas, feitas de humildes degraus

Olho essa minha inflexão, que desenha suas curvas em reta

Debato com todos os meus eus, a fim de meus bons venceram meus maus

E abraço, por fim, meu farol apagado, que tanto me alerta!

Guardo na noite sem fim o troféu desses olhos que nunca descansam

Revejo suas cenas sinceras: enredo tão sério de suas comédias

E afirmo em meu desatino que eles almejam mas nunca alcançam

E logo percebo sem medo: minhas novas vontades ainda são velhas!

Posso governar o tempo, ele quis adormecer em meu lugar

Posso voltar ao futuro e avançar para o hoje de meu passado

Tudo posso sob a clareza desse escuro, até meu sonho perdido achar

Pois eu durmo aqui acordado, enquanto dormiu o que está despertado!

E assim me vou viajando, na nave que rasga o véu da madrugada

As coisas que vejo e ouço, eu guardo em segredo pra não me contar

Quisera render-me ao sossego, sem nunca ouvir ou mesmo ver nada

Talvez mentindo ao meu dormir eu possa até fingir que consigo sonhar!!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 05/12/2007
Reeditado em 03/01/2012
Código do texto: T765794
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