" ORFANATO"

Como eu vim parar aqui?

Eu não sei.

Mas se eu pudesse ter escolha eu não viria,

Aqui é feio e escuro,

Há crianças, mas não há alegria.

Da janela do meu quarto dá pra ver o nascer do sol,

É pequeno o espaço que divido com mais três crianças,

Meu mesmo, só o travesseiro e o lençol.

Já sonhei com café da manhã igual ao do comercial de margarina,

Aqui eles deixam ver tv, mas só um pouquinho,

Aqui há muitas regras, eles dizem que é doutrina.

Brinquedos eu tenho todos, carrinho a pilha, bonecos de super- heróis e monstros espaciais,

Onde eu os guardo?

Na memória, não posso toca-los, mas eles são demais !

Os adultos nos visitam aqui, é uma correria. . .

Eles nos olham, nos rodeiam, eu não entendo muito bem,

De alguns eu não gosto,

Queria que eles não gostassem de mim também. . .

Uma vez tentei fugir,

Aproveitei um cochilo da irmã, pulei o muro e me pus a correr,

Mas parei, desisti,

Fugir pra onde, se eu não sei nem de onde eu vim.

A melhor hora aqui é a de dormir,

porque nos meus sonhos ninguém toca e eu posso tudo !

E eu sonho um dia lindo com o sol brilhando,

Em que alguém entrará por aquela porta feia e cinza,

E andará por esses corredores que tantas vezes eu atravessei chorando, e dirá:

Vem fiho, a mamãe está lá fora esperando. . .