Se nos mais belos campos

Se nos mais belos campos

Não enxerguei as flores, foi sem propósito

Completo de tudo que ali estava, e aos meus olhos não havia nada, e repito:

Foi sem propósito.

Se surdei-me a esclarecer no nó do meu ouvido

O pranto que no choro era a imensidão, não foi porque era surdo;

Talvez somente não apto a ouvir, ou desvendar.

(Ó desbravador de todos males, porque da cantiga do todo belo calaste os olhos à beleza?)

Se me entendesse não seria somente eu, seria eu entendido, ou entendedor, ou como qualquer um queira: a decadência.

Se saber do que eu gosto e admitir pra sempre as mesmas flores faz de mim sublime

Prefiro ser o que sempre fui: ignorado

E no mistico que se rodava todo esse delírio

Sorriram milhares de sorrisos contentes - por serem contentes não eram de gente – e por não serem de gente não valiam, porque não eram verdadeiros

E eu não sorri

Nessa cálida mensagem de ser indiferente ao belo completo, ignorei-me.

Por ser diferente pensei não ser certo, e por não ser certo calei-me quando podia falar, ceguei-me quando deveria ver, e fechei os lábios quando deveria sorrir.

Por não ser completo, decidi por pelo menos ser verdadeiro.

E senti estar feliz não é necessariamente ser o mais sorridente ou valente, mas ser o verdadeiro

Que do que adianta, desbravador de todo o escondido, mentir pra ser real e ser real pra não ser verdadeiro?

Se debaixo de todos os tapetes vive hoje o pó e milhões de bactérias, vivem também admiradores de flores, sim, flores

Porém não verdadeiras.

Diego Guimarães Camargo
Enviado por Diego Guimarães Camargo em 02/12/2007
Código do texto: T761993